Como era gostoso...

Alcides Caminha, casado, funcionário público, cidadão pacato, quase sem graça. Tinha um segredo, que guardou por quase quarenta anos. Era a identidade secreta do quadrinista erótico mais famoso do Brasil: Carlos Zéfiro. Qualquer pessoa nascida nos anos 50 e 60 curtiu, de uma forma ou outra, as deliciosas fantasias sexuais dos personagens desse mestre da sacanagem. Transferido do Rio para Brasília, em 1973, deixou a cidade inspirar uma de suas histórias, "Asa Sul". As edições eram simples, vendidadas sorrateiramente em algumas poucas bancas de revistas. O erótico amplificado pelo proibido.

As "revistinhas" como eram conhecidas (em São Paulo batizaram-nas de "catecismo") eram desenhadas em papel vegetal, copiando pedaços de fotos de revistas de sacanagem européias (também proibidas). Eram alternativa barata para aquelas revistas estrangeiras caríssimas. A genialidade de Zéfiro, no entanto, estava em bolar histórias com começo, meio e fim. Com gostinho brasileiro, meio cordel, bem temperado, sacagem da boa, mesmo. Dizem que foi responsável pela iniciação sexual de boa parte dos jovens da época. Escreveu 862 revistinhas. Só "A pagadora de promessas" vendeu mais de trinta mil exemplares. Apesar do sucesso, nunca ficou rico. Fazia porque gostava. Revelou seu segredo numa entrevista à revista Playboy. Morreu em 1992, sem um exemplar sequer. Os filhos se apossaram de tudo.

Gostei quando descobri o site carloszefiro.com. Lá pode-se ler (ou reler) várias revistinhas. Para quem não o conhece, recomendo a visita.

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