O preço da fé

Notícia do jornal "O Povo" de hoje. Para saldar dívida de 250 mil reais com a União, a Arquidiocese Metropolitana de Fortaleza dá como pagamento o terreno onde está construída a centenária Capela de São Pedro, na praia de Mucuripe (vale lembrar que antes de virar apóstolo e receber as chaves do céu, o santo era pescador). Quem conhece o lugar sabe que se trata de obra simples, freqüentada por gente humilde - em grande parte pescadores, que prometem vigília em sua defesa. Destoa da vizinhança, a badalada Beira-mar, com movimentada vida noturna, apinhada de prédios de apartamentos "classe A". Reconhecidamente área cobiçada pelo mercado imobiliário da região.

Há movimento aqui em Brasília para tombar o prédio e, assim, salvá-lo da demolição. Não obstante esse esforço, algumas perguntas estão espremidas na garganta: Porque instâncias superiores da Igreja não assumiram o pagamento da dívida, já que se trata de importante testemunho da religiosidade e fé cristãs? Difícil crer que não houvesse outro imóvel (que não fosse sagrado) para ser dado em pagamento, já que a igreja é a casa de Deus e ela é mais importante que a casa dos seus representantes na Terra? O local de adoração de fiéis mais pobres e humildes é menos digno do que os templos freqüentados pelos mais ricos e, portanto, descartável? Seria esse "pagamento" uma jogada (arriscada) dos nossos bons padres para liquidarem a dívida e depois recuperarem o precioso imóvel por tombamento? Ou a pressão dos agentes imobíliários foi simplesmente mais forte que a fé?

Crédito da foto: Projeto disco de cera


Chora, Rita

Ontem, no Daily News Online, jornal eletrônico oficial do governo de Botsuana (onde o Brasil recentemente abriu Embaixada), foi publicada matéria mostrando que vários Membros do Parlamento acreditam que está na hora de acabar com o bogadi. O membro por Mmadinare, o Sr. Ponatshego Kedikilwe, propôs na tribuna que o dito cujo fosse abolido definitivamente. Trata-se da tradição do "preço da noiva", uma espécie de dote pago em... vacas! É isso mesmo. Pagam-se vacas pelas mulheres. As que forem virgens, claro. Mulheres virgens, bem entendido. Como comprovar a qualidade da aquisição? Ela (a mulher) tem que gritar na noite de núpcias, para que o resto da família possa atestar sua "pureza". Se bem que em outra matéria sobre o mesmo tema, há um ano, o influente Bispo David Monnakgosi já lembrava que essa prática forçava maridos apaixonados a trapacear e recomendar que suas mulheres gritassem de qualquer modo, para que passassem no teste. Lembrou, ainda, que uma vaca custava só 80 Pulas (a moeda de Botsuana) quando se casou em 1982 e que na época não havia tabelamento de preços.

Naquela mesma sessão do Parlamento, o Sr. Kedikilwe lembrou que o fim do bogadi seria importante para diminuir o índice de violência doméstica de seu país. Ao pagar as vacas, disse ele, "os homens são levados a acreditar que adquiriram um objeto sexual e que podem fazer o que quiserem com ele." Algo para se refletir, certamente. Principalmente pela alta taxa de abuso sexual cometido contra filhas e sobrinhas, incentivado, em parte, pelo silêncio das esposas e cunhadas, que sabem que boca calada não leva porrada. Para piorar, 40% da população do país tem AIDS. Era o campeão mundial em incidência, mas a Suazilândia conseguiu passar na frente.

Tem mais: a homossexualidade é punida com 7 anos de cadeia, de acordo com o Código Penal. Traidor não tem refresco, não.




(Edélcio inspirou)


O gato comeu

- Cadê a bombinha que estava aqui?
- O gato comeu...

Apesar do relatório de avaliação do NSIE (National Security Intelligence Estimate), divulgado no último dia 3 em Washington, concluir que o Irã interrompeu seu programa nuclear ainda em 2003, a tecla da ameaça da bomba atômica Iraniana continua a ser tocada pelo presidente americano. Sem o menor constrangimento. Com cara séria e tudo. Em entrevista à Reuters, o Tenente-coronel John Sattler, diretor de planejamento e políticas estratégicas do Comando-maior das forças armadas, afirma que não houve "correção de curso" em decorrência daquele relatório.

Mas a verdade pouco importa para boa parte dos eleitores americanos, que têm a ilusão de serem modelo da democracia universal e que enxergam o mundo de forma simplista, pasteurizada e embalada a vácuo para consumo imediato.

Tá certo que o Ahmadinejad não é santo. Homofóbico, afirmou em discurso que "não há gays no Irã" (é claro - os espertos ficam mesmo no armário e os que soltam a franga logo perdem a cabeça... literalmente). Chegado a amizades questionáveis na América do Sul, não chega a ser modelo de estadista.

Mas bomba, não tem.